terça-feira, 6 de março de 2012

“Na verdade, nem seu dinheiro é.”. Aquelas palavras, soltadas na hora de raiva, mal notadas pela minha mãe teriam me ferido em cheio. O dinheiro não era meu. Eram deles. Como o dinheiro que provinha todo o meu reino de desventuras. Meus estudos, minhas roupas, meus sonhos, meus livros, meus sapatos, meu quarto. Tudo que antes colocava o pronome possessivo na frente. Nada me pertencia. Somente minha alma. Minha alma corroída. Não me sinto boa o bastante para receber toda aquela atenção, aqueles carinhos, sorrisos, seus dedos macios tocando a minha pele, todo aquele afeto. Meus pais são bons. Demais. Mereço tudo isso? Tenho medo da resposta. Uma voz no fundo, me diz que não.

A verdade é, não me sinto boa o bastante. Nem para eles e nem para ninguém. Sei que sou melhor do que alguns, mas até que ponto? Aquele homem que esfaqueou sua irmã não acordou um dia e por vontade involuntária e irracional a matou. Sofreu violência pela sociedade. Se eu sofresse o que ele sofreu, será que faria melhor? Não teria pego a faca antes? Não. Sim. As possibilidades e os absurdos inventados pela minha mente e dos outros são várias. A idéia de que alguém se lembra do meu rosto, meu nome, minha voz e talvez meu riso.. Me incomoda. Mereço aquele pedaço de sua mente? Por que seria tão tolo em me guardar? Não sou o demônio. Mas não sou um anjo. Cometo pecados que não involvem a luxúria e nem a ira; isso não me faz menos pior. Uma prostituta pode ser melhor que a minha pessoa. Te soa como uma loucura, mas posso ser pior.. Em minha mente.. Quando paro, quando estou sozinha, sempre me deparo com a tola pergunta que me mantém viva: Mato eles ou a mim?

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