A via contemplar os detalhes que havia naquela tarde cinzenta onde ecoava murmúrios e os tilintar de talheres e xícaras naquela cafeteria; algumas vezes conseguia captar o que seus olhos apreciavam, mas na maioria do tempo, só podia contemplá-los. Eram olhos sonhadores, ágeis, apaixonados por detalhes onde acredita ter afeição. Carregava em seus lábios o velho sorriso melancólico que enganava a muitos ao dizer que estava bem e em seus longos e finos dedos de artista, um cigarro, o alimentador do fogo de suas agonias. Ainda me lembro do choque que tive ao vê-la com um cigarro em suas delicadas mãos, ao notar que ela não era uma fada que veio encantar a minha vida mas sim uma garota, tão frágil quanto eu. — Sabe.. Algumas vezes o amor é que nem um inseto. Já percebeu? — A olhei não compreendendo aonde ela queria chegar (como sempre). — N.. Não. — Ela soltou um ruído como a de uma criança que ainda esperava mais palavras virem do meu ser. Não estava mais olhando para o local em si, mas para meu rosto, temia seus ágeis pensamentos. Engoli seco molhando os lábios criando coragem para ouvi-la, ouvir mais palavras eloquentes que no fundo, sabia que eram verdades. Verdades que poderiam ser escritas em um livro que poucos poderiam ler, pois os tolos que o lessem não a compreenderiam e a colocariam ao lado de Lispector. Onde as palavras parecem belas, mas não enchem a alma deles. — Por que essa analogia? — Vi um sorriso maroto ser formado por alguns segundos em seus lábios, os quais entraram em contato mais uma vez com o cigarro, tragando, ficou alguns minutos depois apreciando a fumaça que ela mesma soltara. — Vemos o inseto de longe, ele nos incomoda. Sabemos direitinho o que fazer quando chegar perto, como imaginamos que vão chegar e como poderemos matar. Mas na hora, eles chegam rápido demais, estão em nossos rostos.. Entramos em pânico esquecendo-se do plano e quando vemos, estamos batendo em nós mesmos.
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